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sexta-feira, 8 de março de 2013

Providência divina

Sei que um ônibus cheio não é o cenário mais romântico, mas, feliz ou infelizmente, é nele que acontece o que narro. Quatro ou seis cabeças alinhadas obstruem a vista da frente. Os bancos altos contribuem, assim como as pessoas em pé. Não vejo muito além de rostos cansados ou sonolentos ou as duas coisas, indo ou vindo de ou para casa. Não sei. Estou de olhos fechados e, nesse instante, o mundo se resume às minhas agruras, pensamentos e silêncios. Daqueles, muitos afluem e vez ou outro me vem um ou outro que me faz lembrar você; aquelas coisas todas, nossa vida, flashes, frames, momentos, frases soltas, palavras que dissemos sem querer e querendo, nada mais do que eu e você em toda a nossa infinidade. Mas depois... Depois me vem a incerteza de que você voltará a fazer parte da minha vida e de que um dia teremos outros momentos para eternizar. Então a boca se torna amarga e a tarde perde um tanto de sua formosura por um instante ou dois.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Soneto #1


E na clausura voluntária
Fui tolhido da minha liberdade
Nesta sala vazia ordinária
Não posso exercer a minha vontade

Os versos, confesso, me chamam
Embora eu não os declame
Aventurados aqueles que amam
E não mancham a vida com sangue

Se eu pudesse um dia ir embora
Talvez eu fosse pra longe
E ouvisse essa voz que me chama

Mas não posso fazê-lo agora
Saudades dos tempos de ontem
Do calor de quem sei que me ama

A máquina e o ancião


Tempo.

Queria ter tempo. Não que eu não tenha, ou que eu não tenha o bastante. Na verdade eu não tenho, de fato, mas é de outro tempo que eu estou falando. É um tempo nostálgico, bucólico, modesto, com um sabor diferente do tempo ocioso que muitos desejam, assim como eu. Mas não é esse, é o outro. Queria ter o tempo das pessoas que vejo partirem ou chegarem dentro de ônibus de viagem; queria ter o tempo das pessoas dentro dos aviões; queria ter o tempo do final da tarde, da volta pra casa depois do trabalho; o tempo que os casais de adolescentes que gozam da primeira paixão têm para andarem de mãos dadas pelas ruas arborizadas; queria ter o tempo da relva, da campina, da casinha no meio do campo infinito sob o céu cheio de nuvens fofas, brancas; o tempo de se sentar sob a árvore e fechar os olhos; o tempo de estar envolto pelo cobertor num dia frio e chuvoso; o tempo de comer pipoca e assistir a um filme no sofá da sala; de ir ao mercadinho da esquina caminhando, sem pressa; de pegar o violão e brincar de fazer música; de pegar o caderninho e brincar de fazer versos...

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Namoradeira

Conheci meu amor quando ele passava pela janela. Sorrindo, ele ia todos os dias pelo mesmo caminho, passando em frente à porta da minha casa, do mesmo lado da calçada, devolvendo-me o olhar de fascínio que eu nele depositava ao vê-lo tão elegante.

Garantia-me um suspiro, infalivelmente, todos os dias. Dia que eu não o via, não suspirava, mas nunca deixei de me debruçar sobre a janela só pra vê-lo passar.