— Não, não vou, eu prometo.
A conversa se estendia na cozinha
há longos minutos. Aquele parecia ser um assunto insolúvel. Nada o fazia esquecer
aquilo e nada que eu dizia o convencia. Finalmente, depois de muita discussão,
muita argumentação e até algumas faíscas, o deus
ex machina de toda aquela tragédia foi uma promessa.
— Você tem certeza?
— Tenho, já até prometi.
— Eu não queria que prometesse...
— Por que não?
— Porque promessa é uma coisa que
as pessoas fazem quando querem que a outra pare de encher o saco.
Deixei a faca sobre a pia,
olhei-o com olhos bastante incrédulos, repousei um punho fechado sobre meu
quadril e franzi o cenho.
— Por que diz isso?
— Porque é verdade, ora... Mas
agora você já prometeu, e, se não cumprir, vai quebrar a promessa... Promessa é
feita pra ser quebrada.
— Pelo amor de Deus, Álvaro! Se
eu estou te prometendo que não vou fazer, é porque quero que acredite,
definitivamente, que não vou! Pra mim, quando se promete algo, é porque
realmente se pretende cumprir. Pensei que uma promessa fosse o ponto alto do
compromisso com a própria palavra.
— Ah, não deixa de ser, mas é que
sei lá... Eu não penso assim.
— Quer que eu retire a promessa?
— Não, só quero que não faça de
novo...
Álvaro deitou a cabeça sobre os
baços cruzados na mesa, com um olhar de criança chateada.
— Não estou te entendendo. De
verdade.
— Não tem muito o que entender,
eu só não gosto de promessas.
— Ok, então o que eu posso fazer
pra te assegurar que aquilo não vai acontecer de novo?
— Não precisa fazer nada, eu
acredito em você.
— Então por que estamos tendo
essa discussão ridícula há quase meia hora e não chegamos a consenso nenhum?
— Porque eu sou inseguro.
— Exato. Pensei que uma promessa
te traria um pouco mais de segurança.
— Muito pelo contrário. Agora vou
ficar esperando que você quebre a promessa, e eu vou ficar muito triste se isso
acontecer.
— Isso foi uma chantagem?
Sem resposta.
— Olha, eu acho que esta conversa
já foi longe demais, não? Estamos discutindo por pouca coisa.
— Não é pouca coisa; é importante
pra mim.
— Tudo bem; pra mim é
irrelevante, mas, se pra você não é, eu respeito. Não quer minha promessa,
então fique com a minha palavra: eu te dou a minha palavra que não vou mais
emprestar seu vídeo game pra ninguém sem, antes, pedir sua permissão. Estamos
conversados?
— Estamos...
Voltei a cortar meus tomates e
encerramos o assunto.
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