Noite dessas eu tive um sonho.
Sim, um sonho, como outro qualquer. A diferença é que você estava nele. Mas não
foi um sonho feliz, não; foi um sonho triste. E foi triste por um único
detalhe: nele você ainda fazia parte da minha vida... Sim, eu sei, já faz muito
tempo e agora, provavelmente, você já nem se lembra de que eu existo. Ou, se
lembrar-se, já não tenho mais nenhuma importância – se é que cheguei a ter
importância um dia.
Não digo que fui insignificante.
Sei que não o fui, de forma alguma. A única coisa que me maltrata o coração é
saber que não fui tão importante pra você quanto você foi pra mim (e você não
calcula o tamanho da importância que você teve). Chega a ser bobo eu lhe dizer
isto agora, uma porque você nunca vai ter oportunidade de ler estas palavras e,
outra, porque, ainda que tivesse, sei que elas não te afetariam de forma
alguma. Se não afetaram quando era tempo, por que afetariam agora? Mas eu
também nem quero que isso aconteça. Só estou escrevendo isso aqui porque dia
desses eu te vi na rua e, sabe?, eu senti saudades. Sabe aquela saudade que
bate quando você se dá conta de que perdeu algo que não podia substituir?
Melhor ainda: sabe quando aquela camisa que você adorava já não te serve mais e
você precisa se desfazer dela?, mesmo que seja só uma camisa? Exatamente. Você
foi uma camisa que eu adorei e que, às vezes, me dá vontade de usar novamente,
mesmo sabendo que ela já não existe mais... Não é triste, mas é bem nostálgico.
Mas eu tenho muitas camisas, e
estou sempre comprando mais, e se você já não me servia mais, é sinal de que eu
cresci e te perdi – é isso que acontece com as camisas, não é?
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