sexta-feira, 27 de junho de 2014

Vincent

Queridos leitores,

Venho anunciar que comecei hoje uma web série chamada Vincent. Por se tratar de uma série, não publicarei os posts aqui, no blog, mas em uma outra plataforma chamada Wattpad, que é voltada a esse formato. Pra acompanhar a história, clique no widget abaixo. Bjinho e boa leitura.

terça-feira, 20 de maio de 2014

O mundo em meus olhos

Eu não saberia te explicar como vim parar aqui, assim como não saberia te dizer quando ou sob quais circunstâncias nasci. Sei apenas que existo e estou aqui, também não sei há quanto tempo. Acordei assim. Não tenho memórias da minha vida, nem sei se tenho vida. Não sei o que veio antes de hoje e acredito que amanhã este dia se repetirá, e depois de amanhã também, e para sempre, até a morte, se ela vier. Não sei se ela sabe o caminho pra cá, ou se ela sabe que há vida aqui, ou se há vida afinal. Moro onde talvez ela não me encontre, mas não fiz de propósito: estou aqui porque sim.

sexta-feira, 4 de abril de 2014

Caneta vermelha

Dentro da sala, ouvia-se apenas o barulho do relógio da parede ticando, segundo após segundo, infinitamente. O silêncio era total e absoluto, irrompível. Enquanto aquelas dezenas de alunos faziam suas provas concentradamente, Otto, ou Professor Buckley, corrigia outras dezenas de provas sobre sua mesa bagunçada. Aquela vida já não lhe agradava tanto assim. Não mais. Onde fora parar sua juventude?, ele pensava. Gastara todo seu tempo e sua energia estudando, especializando-se, até que, naquele momento, já chegando aos quarenta de idade, ele estivesse no degrau mais alto de sua vida acadêmica: Otto já não tinha mais para onde subir; poucos eram tão bons no que faziam quanto ele. Processamento de Imagens, matéria que ele ministrava na melhor universidade pública do estado. Mas Otto sentia que não era bom o bastante — não como professor — e que seus alunos sentiam o mesmo. Não considerava que a disciplina que ministrava fosse difícil: doutorara-se nela, afinal, mas nenhum de seus pupilos demonstrava grande interesse ao ouvi-lo falar, sempre de forma cadenciada, precisa, com uma voz profunda, quase sexy. Talvez aquele aluno da terceira cadeira se interessasse, julgando pelo olhar, mas só ele não era o bastante. 

quinta-feira, 27 de março de 2014

Tomates

— Você não vai mesmo fazer isso de novo?
— Não, não vou, eu prometo.

A conversa se estendia na cozinha há longos minutos. Aquele parecia ser um assunto insolúvel. Nada o fazia esquecer aquilo e nada que eu dizia o convencia. Finalmente, depois de muita discussão, muita argumentação e até algumas faíscas, o deus ex machina de toda aquela tragédia foi uma promessa.

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

River

(Poema de Agnieszka Surygala)

"Standing by the river I wonder,
do I need a stone?
No...my heart is heavy enough.
It will drag me down for sure.
Standing by the river I smile,
will I miss it all?
No...I'll be glad to leave it behind,
and never come back.
Standing by the river I close my eyes.
One jump and I'm there.
No...someone jumped after me.
He will never be my friend.
Standing by the river I'm thinking,
will I jump again?
No...behind the closed doors
I have fallen in love with the razor"

terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Sonho de uma meia-noite de verão

Nas férias de verão, meus pais sempre tinham a péssima ideia de viajar para a fazenda da tia Leontina. Eu nunca gostei de mato e essa ideia sempre me causava muito desgosto, mas eu não tinha escolha: era isso ou ficar em casa uma semana à base de miojo, pipoca e leite com bolacha — as únicas coisas que eu sei fazer.

Numa dessas idas, chegando lá, percebi que haviam contratado um porteiro novo. Vi assim que chegamos. Tia Leontina, como sempre, nos recebeu com a maior festa. Enchia-me de beijos e apertos na bochecha, que eu detestava. Já estava meio grandinho pr’aquilo, mas ela parecia não perceber. Aliás, eu já estava mais do que grandinho: eu já era maior de idade; nunca foi motivo pra que ela perdesse esse hábito.

sábado, 1 de fevereiro de 2014

Paraíso negro

Ele conhecia uma. Eu, coitado de mim, mal sabia das coisas. Quando me sentei neste banco de praça, não supus que seria abatido novamente por essas memórias. Já faz tanto tempo que, às vezes, acho que me esqueci de tudo aquilo. Mas que tolice a minha. Eu não sei que jamais me esqueceria de Matias, mesmo que eu vivesse outros sessenta e seis anos? Velho idiota!

Na época em que o conheci, Matias estava no auge. E acho que foi amor à primeira vista, se é que isso existe, se é que amor existe. Desgraçado... Oh, vida desgraçada. Por que é que eu fui sair de casa hoje? Aliás, que dia é hoje? Já faz tanto tempo. Não sei se comprei meus remédios deste mês. Que falta faz a Marcela.

quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Prova

Silêncio profundo. Ao redor, cabeças baixas e concentradas. À minha frente, sua mesa bagunçada. Meus olhos atentos. Lápis na boca, de propósito ou não. Dois metros e algumas circunstâncias nos separam. Sua cabeça, baixa como as demais, se ergue. Nossos olhares se cruzam. Sorrio mas você parece não entender, e me olha como se tentasse fazê-lo. Não sou clara o bastante, mas você é esperto. Ajeito o cabelo e volto os olhos ao papel, feito os demais. Tento disfarçar, sem sucesso. Contra minha vontade, meus olhos procuram os seus, que já procuravam os meus antes. Devoro-te, mas não decifra-me. Sorrimos de novo e sua cabeça se inclina para a direita como quem pergunta algo que não respondo. Você não percebe? Cruzo as pernas, sem esperança, mas sem pesar. Somos eternos porque você não me concretiza; se o fizesse, talvez nos perdêssemos. Jamais saberemos. Você volta a cuidar de seus papéis; eu, dos meus. Com o lápis que segurava na boca, escrevo seu nome na prova, depois o meu. Talvez, se eu for a última a sair da sala... Bem, nunca saberemos. É melhor ir agora. Boa noite, adeus.