segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Namoradeira

Conheci meu amor quando ele passava pela janela. Sorrindo, ele ia todos os dias pelo mesmo caminho, passando em frente à porta da minha casa, do mesmo lado da calçada, devolvendo-me o olhar de fascínio que eu nele depositava ao vê-lo tão elegante.

Garantia-me um suspiro, infalivelmente, todos os dias. Dia que eu não o via, não suspirava, mas nunca deixei de me debruçar sobre a janela só pra vê-lo passar.

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

13:00

Às 13:00 daquele dia a sua vida já não estava mais nas suas mãos. Tiraram-na do seu domínio com o seu consentimento, mas foi uma medida necessária; só assim você poderia tê-la novamente, num futuro que talvez nem chegue. Não há muito o que possamos fazer... Você estará em silêncio por muitos, muitos dias, e eu estarei aqui, seguindo adiante como a vida me permitir.

Por três dias.

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Eu prometo

— Você não vai mesmo fazer isso de novo?
— Não, não vou, eu prometo.

A conversa se estendia na cozinha há longos minutos. Aquele parecia ser um assunto insolúvel. Nada o fazia esquecer aquilo e nada que eu dizia o convencia. Finalmente, depois de muita discussão, muita argumentação e até algumas faíscas, o deus ex machina de toda aquela tragédia foi uma promessa.

segunda-feira, 23 de julho de 2012

Camisa velha

Noite dessas eu tive um sonho. Sim, um sonho, como outro qualquer. A diferença é que você estava nele. Mas não foi um sonho feliz, não; foi um sonho triste. E foi triste por um único detalhe: nele você ainda fazia parte da minha vida... Sim, eu sei, já faz muito tempo e agora, provavelmente, você já nem se lembra de que eu existo. Ou, se lembrar-se, já não tenho mais nenhuma importância – se é que cheguei a ter importância um dia.

domingo, 22 de julho de 2012

Prólogo


Tempos estranhos estes em que vivemos. Deveras. Estranhos, incertos, indizíveis... Muitos adjetivos cabem aqui. Ainda assim, são tempos em que as pessoas se julgam felizes. Eu, particularmente, acho que elas já foram mais felizes, só não sabiam disso. Uma pena.


Meu nome pouco importa agora. Nada importa muito. Apenas eu e você. Eu e a história que vou contar. Mas, antes, é de extrema importância que você saiba, que entenda e aceite que eu existo. Não existo simplesmente porque digo: existo porque sim, porque você precisa saber disso. Existo tanto que me sentei neste chão macio para contar-lhe esta história aqui do alto, onde eu alcanço a todos, mas ninguém me alcança.

sábado, 21 de julho de 2012

Aquele vestido bege

O relógio da estação marcava cinco horas. Lá estava eu, sentada num dos bancos próximos à plataforma, como de costume, esperando que ele voltasse para mim. Todos os dias a mesma coisa, mas eu não me incomodava. Eu o amava, e encontrá-lo todas as tardes na plataforma central da estação era a melhor coisa do dia.

Eu usava o meu vestido preferido, aquele vestido bege com detalhes em branco, um pouco rodado, que me deixava um tanto jovial. As pessoas passavam junto com as horas, e logo as cinco da tarde se tornaram seis. Permaneci sentada, esperando que meu amado voltasse para mim. Não me preocupei; ele era um homem bastante atarefado e, às vezes, atrasava-se com seus afazeres. Nunca me preocupei. Permaneci sentada.

quarta-feira, 18 de julho de 2012

Cortejo

Surgiu meio que do nada, uma conversa estranha, meio que dúbia. Ele surgiu meio do nada, não tão dúbio assim. Na verdade não queria dizer nada, estava apenas ali, até que começou com aquela conversa, aquela conversa prosaica que logo virou lábia e acabou em lugar nenhum. Na verdade, minto; acabou na Rua das Palmas, número 5. Uma passagem rápida por lá. Nada de cerimônia; só um cumprimento pra ver como as coisas andavam.