sexta-feira, 4 de abril de 2014

Caneta vermelha

Dentro da sala, ouvia-se apenas o barulho do relógio da parede ticando, segundo após segundo, infinitamente. O silêncio era total e absoluto, irrompível. Enquanto aquelas dezenas de alunos faziam suas provas concentradamente, Otto, ou Professor Buckley, corrigia outras dezenas de provas sobre sua mesa bagunçada. Aquela vida já não lhe agradava tanto assim. Não mais. Onde fora parar sua juventude?, ele pensava. Gastara todo seu tempo e sua energia estudando, especializando-se, até que, naquele momento, já chegando aos quarenta de idade, ele estivesse no degrau mais alto de sua vida acadêmica: Otto já não tinha mais para onde subir; poucos eram tão bons no que faziam quanto ele. Processamento de Imagens, matéria que ele ministrava na melhor universidade pública do estado. Mas Otto sentia que não era bom o bastante — não como professor — e que seus alunos sentiam o mesmo. Não considerava que a disciplina que ministrava fosse difícil: doutorara-se nela, afinal, mas nenhum de seus pupilos demonstrava grande interesse ao ouvi-lo falar, sempre de forma cadenciada, precisa, com uma voz profunda, quase sexy. Talvez aquele aluno da terceira cadeira se interessasse, julgando pelo olhar, mas só ele não era o bastante.