Namoradeira

Conheci meu amor quando ele passava pela janela. Sorrindo, ele ia todos os dias pelo mesmo caminho, passando em frente à porta da minha casa, do mesmo lado da calçada, devolvendo-me o olhar de fascínio que eu nele depositava ao vê-lo tão elegante.

Garantia-me um suspiro, infalivelmente, todos os dias. Dia que eu não o via, não suspirava, mas nunca deixei de me debruçar sobre a janela só pra vê-lo passar.

Dia desses, ele parou pra conversar. Senti aquilo que chamam de borboletas no estômago, ou algo assim. Perguntou meu nome. Tirou o chapéu e, com toda a educação, me teceu um elogio singelo, mas que tocou o coração. Éramos só nós dois, separados por uma janela e pelo sol que amornava nossas conversas rápidas, que, aos poucos foram se tornando pouco longas, até o ponto em que ele saía de casa mais cedo e nos encontrávamos com antecedência pra que ele não se atrasasse. Tão bonito ele era: cabelo sempre arrumado, penteado, sem um fio fora do lugar. Eu, humilde, me sentia pouca coisa perto dele, mas ele não se importava, não.

Às vezes ele não passava, e isso me doía o coração. Muita coisa me passava pela cabeça, sabe? Talvez ele tivesse se cansado da minha insipidez ou tivesse resolvido mudar de caminho pra não ter que ouvir a minha conversa simplória de todos os dias. Mas logo ele voltava e eu me enchia da certeza de que ele estava ali para me cortejar.

E foi num desses outros dias que ele se atrasou, mais do que geralmente demorava quando perdia a hora. E quando passou, logo disse eu, com o deslumbre de sempre:

— Estás atrasado, moço.
— Eu sei — respondeu-me ele. 
— É que hoje tive que ir até a loja de flores para lhe trazer esta rosa.

Talvez minhas bochechas tivessem ficado rubras como a flor. Não consegui conter o sorriso.
— É muita gentileza sua — consegui dizer.
— Não, senhorita: trata-se de um pedido... Se aceitares, é claro.

Que tolo. Mal sabia ele que era por aquele pedido que eu esperava desde o primeiro instante em que o vi.