quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

A máquina e o ancião


Tempo.

Queria ter tempo. Não que eu não tenha, ou que eu não tenha o bastante. Na verdade eu não tenho, de fato, mas é de outro tempo que eu estou falando. É um tempo nostálgico, bucólico, modesto, com um sabor diferente do tempo ocioso que muitos desejam, assim como eu. Mas não é esse, é o outro. Queria ter o tempo das pessoas que vejo partirem ou chegarem dentro de ônibus de viagem; queria ter o tempo das pessoas dentro dos aviões; queria ter o tempo do final da tarde, da volta pra casa depois do trabalho; o tempo que os casais de adolescentes que gozam da primeira paixão têm para andarem de mãos dadas pelas ruas arborizadas; queria ter o tempo da relva, da campina, da casinha no meio do campo infinito sob o céu cheio de nuvens fofas, brancas; o tempo de se sentar sob a árvore e fechar os olhos; o tempo de estar envolto pelo cobertor num dia frio e chuvoso; o tempo de comer pipoca e assistir a um filme no sofá da sala; de ir ao mercadinho da esquina caminhando, sem pressa; de pegar o violão e brincar de fazer música; de pegar o caderninho e brincar de fazer versos...

Talvez eu viva no tempo errado, ou talvez o tempo que eu queria seja um estado de espírito um pouco difícil de atingir. O tempo em que vivo me parece tão acelerado, calculado, medido milimetricamente. “Tenho 6 horas para dormir, 15 minutos para tomar banho, 3 para escovar os dentes, 5 para arrumar o cabelo, 10 para tomar o café, 13 para me arrumar e 27 para chegar ao trabalho 15 minutos antes do meu expediente que acaba às 18 para que eu possa estudar até as 22, estar em casa às 23 e ter as 6 horas de que eu preciso para dormir e poder começar tudo de novo”. Esse Tempo me parece uma máquina de produção: imparável, infalível, implacável. Não. Não quero esse. Queria o Tempo velho, barbudo, vagaroso, que se senta ao banco da praça só pra ver a vida passar.

Um comentário :

  1. Eu sei como é sentir como o tempo escapasse da gente. Talvez não aquele tempo que é dinheiro, o tempo que conta pro capitalismo, mas o tempo emocional, o tempo que pra pessoas como nós, Natan, realmente importa.

    Texto lindo, amo quando você escreve assim. Mesmo.

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