terça-feira, 15 de maio de 2018

Diário de um escritorzão: sobre sentimentos mistos pela obra

Este é um ensaio/solilóquio mal revisado que não tem função nenhuma além de expressar uns sentimentos literários muito específicos e particulares que só alcançaram esta plataforma pelo incentivo de Kyran. Caso contrário teriam ficado aqui dentro da minha cabeça sem ganhar a luz do dia. Não pretendo chegar a conclusão nenhuma; se isso acontecer, vai ser por acaso e durante a escrita desta post. Se alguém desavisado estiver me lendo agora, é possível que haja spoilers de livros meus adiante.

Foi Clarice Lispector, na memorável entrevista à TV Cultura, que disse que, assim que acaba de escrever um livro, perde o interesse por ele. Essa entrevista é uma das coisas mais simultaneamente embaraçosas e geniais que eu já vi em toda minha vida, e no instante em que ela disse essa frase eu me reconheci inteiro nela. De tudo que eu já escrevi, entre contos e romances, pouca coisa hoje em dia ainda me desperta o interesse ou me faz querer voltar e reler, e quando isso acontece, geralmente tenho sentimentos muito definidos em relação a tudo que já escrevi.

Vou dar nome aos bois. Meu primeiro livro oficial, com começo, meio e fim bem estruturados, uma narrativa relativamente interessante, eu escrevi entre os 16 e os 17 anos de idade. North Bound. Na época eu ainda era interessado em nomes estrangeiros e coisas assim. Antes disso eu tinha escrito duas novelas, mas ambas igualmente ridículas e inconsistentes (uma se perdeu no HD de um computador que eu vendi antes de conseguir salvar a história (e eu já nem me lembro bem do que se tratava, só sei que era um romance universitário e o nome era Charlie, Richard e os outros); a segunda era sobre um bromance mal-desenvolvido que não acabava muito bem por causa de uma namorada no meio do caminho e mais nonsense. O nome era Um fantasma entre nós).

Eu ainda me lembro vividamente das emoções que senti quando acabei cada uma dessas histórias. Quando acabei a primeira novela, me senti realizado: Escrevi um livro! Quando finalizei a segunda, senti que tinha criado algo realmente bom, ainda melhor do que a primeira obra—isso tudo antes dos 16 anos de idade (e não digo isso com orgulho, não. “Começar cedo” e “Tornar-se bom cedo” são coisas bem diferentes). Quando acabei North Bound, então, pensei: Meu Deus! Eu nunca mais vou escrever algo tão bom quanto isso! Eu tinha 17 quando acabei.

Hoje, aos 25, eu considero Charlie... um lixo, Um fantasma... excepcionalmente amador e North Bound um pé no saco, com o protagonista mais insuportável que eu já consegui criar (talvez uma leve influência da minha implicância com adolescentes falando por mim aí). E a minha visão sobre essas histórias hoje se dá em virtude do meu amadurecimento como pessoa e como escritor. Tenho ciência de que, na época em que escrevi essas obras, tudo que fiz foi compilar um punhado de fantasias, encadear eventos e colocar no papel de forma minimamente coesa—que é o que a maioria de escritores amadores de romance fazem: colocam no papel as cenas que gostariam de ver acontecer sem se importar muito com verossimilhança. O interesse maior, pra mim, estava em ver as coisas que eu gostaria de viver acontecendo com meus personagens, sempre no maior clima de amorzinho e expectativas que cedo ou tarde se concretizariam.

Não sei se estou me fazendo entender. Estou me referindo a um sentimento muito típico, mas mais facilmente sentido do que explicado. Meu ponto é que hoje eu tenho maturidade pra enxergar esses pontos e entender a forma como eu construía minhas histórias e consigo criticá-las de uma forma que eu não conseguiria fazer no tempo em que as escrevi. Depois de North Bound, veio Entre o amor e o fogo, outro romance universitário absurdamente bobo, ainda construído sob os moldes do romance-fantasia-juvenil. A única coisa que consigo perdoar nesses dois livros é o fato de que, levando-se em conta que eu os escrevi entre os 16 e os 18 anos, eles são até bonzinhos, levando em conta fatores como complexidade dos personagens, criação de espaços etc.

Pois bem. Depois disso eu fui pra faculdade, aprendi MUITO e isso me tornou um pouco melhor em alguns aspectos, inclusive me serviu de base pra aprender a reconhecer minhas falhas, ver coisas por outros prismas. Daí que entre 2011 e 2016, tempos de faculdade, eu escrevi mais uns dois ou três livros, incluindo Se eu tivesse um coração, que é o livro da minha vida, sobre o qual também tenho opiniões fortes, mas mais boas do que ruins. É um livro que eu escrevi 1/3 apaixonado, 1/3 de coração partido e 1/3 de luto, e por isso o tom oscila um pouco. Escrevi SETuC pra me curar de um relacionamento mal resolvido que me causou cicatrizes que vão ficar comigo pra sempre. Aliás, 80% do que existe neste blog (não no Wattpad) é fruto da ferida dessa relação, que eu tentei exaustivamente sublimar em forma de arte e ainda hoje não sei se consegui por completo. Enfim, não é esse o ponto. O que quero falar sobre SETuC é que, independentemente de ser o livro da minha vida, ele é o único livro meu que eu revisito com alguma frequência, e o que me deixa orgulhoso nele é o fato de que ele sempre me traz a mesma sensação: a angústia que eu queria transmitir quando o escrevi, que era a mesma angústia que eu sentia durante a relação da qual ele é fruto. Por se tratar de um livro sobre um adultério que se alonga por meses e meses, os momentos em que os protagonistas estão em plena paz são raríssimos. Tem passagens que não importa quantas vezes eu leia: o coração sempre aperta, os olhos dão aquela marejada, um suspiro vem.

Pois bem. Pra todas essas obras que eu mencionei eu tenho sentimentos bem delineados, e elas me servem como parâmetro pra eu mensurar, de certa forma, onde eu estava e onde eu estou agora, artisticamente. Sei que evoluí muito, aprendi muito e a tendência é sempre melhorar. Até que chegamos a Prazer e remissão, livro que eu carinhosamente chamo de meu livro pornô. Porque... bem, é um livro pornô. E o meu problema com esse livro é: eu não sei o que sentir por ele, e é por isso que criei este post; pra tentar racionalizar os sentimentos.

Talvez meu problema com esse livro seja que ele sofreu uma mudança que estava fora dos meus planos. Ele era pra ser de um jeito x, mas eu acabei me apaixonando pelo protagonista e ele virou outra coisa bem diferente. Minha intenção inicial era criar um livro pornô mesmo, sem firula; o mais superficial e straightforward possível: sem drama, sem frufru, só sexo por sexo, muito na vibe de um outro livro que eu tinha lido na época (infelizmente não lembro o nome pra poder compartilhar :/). E eu queria fazer isso meio que em caráter experimental também, pra colocar na Amazon e ver se vendia (sugestão de um colega), mesmo nunca tendo tido grande interesse em retorno financeiro com os meus livros. Não deu certo o projeto, virou outra coisa.

Virou a história do Eugênio, um jovem deprimido, cheio de problemas, que tem tesão pelo pai, que tenta se matar depois de ouvir os pais tendo uma conversa homofóbica—sendo Gegê gay enrustido—, que tem um encontro com a Morte, que faz uma proposta misteriosa e ele acaba voltando à vida mas esse encontro acaba sendo o maior McGuffin da história.

Desde que eu me apaixonei pelo Eugênio, logo no começo da trama, eu fiquei sem saber o que eu exatamente queria com esse livro. Em North Bound eu queria mostrar uma história de amor que nasceu do ódio homofóbico; em Entre o amor e o fogo eu queria mostrar um lindo bromance que virou algo mais; em Vincent eu queria mostrar a descoberta da sexualidade e as relações humanas e problemas familiares e uma miscelânea de coisinhas; em SETuC eu queria mostrar pro mundo o amor que eu vivi; em Prazer e remissão... eu não queria nada. Eu queria MUITO contar a história do Eugênio, mas sem uma linha de chegada.

A linha de chegada a que eu me apeguei foi uma que funcionou só pra mim e mais uma ou duas pessoas: eu queria conseguir convencer o leitor de que o amor incestuoso pelo pai era minimamente aceitável (senão tolerável) e que no final do livro ele praticamente merecia dar umazinha com o coroa, nem que esse fosse o prêmio de consolação, nem que ele morresse depois (ninguém morre). Mas isso foi porque eu me apaixonei pelo Eugênio. Me apaixonei tanto que no final do livro dou a entender que não apenas ele alcança a utopia da vida dele, mas vai além: consegue que o pai se apaixone por ele também. Olha só o que o amor por um personagem faz com a cabeça de um escritor.

O desafio de Prazer e remissão, além desse do parágrafo acima, foi também escrever cenas de sexo explícito, algo que eu nunca tinha feito porque não era exatamente minha praia, embora eu soubesse que isso era algo que eu poderia fazer com tranquilidade. E fiz, fiz muito bem, por sinal. Só que é essa carga absurda de erotismo do livro que me faz olhar pra ele com olhos dúbios. Será que era realmente necessário? Também: será que era realmente necessário que o pai, no final, desse ao Eugênio tudo que ele queria e mais um pouco?

Levanto essas questões a mim mesmo porque elas ofuscam, em alguma medida, o aspecto que eu mais admiro na história: a relação do Eugênio com os outros personagens. Temos, na história, o protagonista, a mãe, o pai, alguns amigos, o namorado, o chefe filho da puta, um inimigo-que-vira-amigo, o pai desse ex-inimigo. Durante seu trajeto, Eugênio enfrenta a religiosidade opressora da mãe, a passividade do pai, os sentimentos de amor e aceitação que vêm de si próprio e do namorado, a agressividade do chefe carrasco, os sentimentos pelo ex-inimigo, a realidade dele com o pai quando eles vão morar juntos... São relações que acho que construí muito bem dentro da narrativa... mas isso tudo parece não ter assim tanta relevância porque, no final, parece que a única coisa que importava era transar com o pai; que, feito isso, todo o resto é deixado em segundo plano. Ah, isso sem contar que, quando ele realiza essa utopia, tanto ele quanto o pai estão em relacionamentos estáveis com outras pessoas, o que configura uma pequena grande traição de ambas as partes, coisa com que nenhum dos dois parece se importar muito.

Certo. Dito tudo isso: o que eu consegui com esse livro? Eu não sei. Muito pouco, quase nada. Por dois motivos: primeiro porque ele era pra ser um livro pornô e virou outra coisa; só que essa outra coisa era um tanto abstrata até pra mim mesmo, então fica difícil saber se eu atingi essa outra coisa porque... well, o que é essa outra coisa? Que sentimento eu queria deixar pairando depois que o livro acabasse? Eu não sei! Provavelmente o motivo dois: no fundo eu queria que os leitores sentissem uma compaixão tão absoluta pelo Eugênio que no final, na cena da transa com o pai, eles pensassem “Finalmente! Finalmente! Ele conseguiu! Viva!”. Essa reação foi quase nula. Pelo menos três pessoas comentaram que, por mais pervertidas que fossem, não conseguiam aceitar/entender/digerir esse sentimento entre pai e filho.

Talvez seja isso, afinal: eu fracassei na minha missão. Cada vez que alguém pega um livro pra ler, a missão começa de novo. Cada leitor é uma tentativa. Em SETuC, é quase universal a reação esperada: o protagonista vai de vilão a mocinho, de execrado a santificado e é quase unânime a redenção que ele atinge na última página do livro. Duas ou três, entre centenas de pessoas, torceram pra que o desfecho dele fosse outro. Em Prazer e remissão, duas ou três pessoas torceram pra que o desfecho de Eugênio fosse o que eu dei; e cada vez que alguém acaba o livro com essa sensação, eu fracasso; e esse fracasso traz consigo, pelo menos pro meu ego, todas as outras coisas que eu construí ao longo da narrativa.

Pode ser que eu tenha mirado muito alto ao querer naturalizar, na medida do possível, uma relação incestuosa entre pai e filho. Ou pode ser que minha autocensura venha do fato de não ser do meu feitio escrever coisas tão incrivelmente sexualmente explícitas. Acho que no fundo o que eu sinto é uma certa frustração, por as pessoas não torcerem pelo Eugênio da forma como eu torci (a cena de sexo com o pai! a forma como Eugênio a narra faz parecer que é um ritual sagrado, uma experiência metafísica!... Ninguém reparou.) e por elas talvez não perceberem a transformação pela qual ele passou e o homem que ele se tornou depois de tudo.

Eu estava tão apaixonado pelo Eugênio quando terminei Prazer e remissão que comecei a escrever outro livro, continuação dele, desta vez pelo ponto de vista do pai, e estava disposto a fazer um final mais bem finalizado e deixar claro que depois de tudo ele e o pai viveriam mesmo como amantes. Hoje já abandonei essa ideia, mas o trabalho que tá me dando escrever essa continuação... Porque Álvaro, o pai, só era interessante porque Eugênio é interessante. Escrever uma continuação pautada no romance incestuoso deles é continuar mantendo o foco em Eugênio, que seria o carro-chefe dessa relação. Tirar as lentes de cima do Eugênio e colocar sobre o Álvaro e dar a ele a função de ser o protagonista da própria história e torná-lo um personagem suficientemente interessante está sendo uma tarefa hercúlea. Tudo por quê? Porque eu tirei o doce da boca do Eugênio, e, fazendo isso, a história se esvazia feito bexiga.

Enfim. Já se foram 2300 palavras e talvez eu tenha chegado a alguma conclusão. Por enquanto meu objeto com O segundo amanhecer é só que eu não me frustre com ele nem pense que as pessoas poderiam ter torcido pelo Álvaro como eu torci. Vamos ver se consigo.

4 comentários :

  1. Li. Peraí que eu vou deixar um comentário bem grandão pra você, pra ver se te ajuda um pouco mais a organizar as ideias ou, enfim, contribuir pra essa sua visão analítica da estória do Gegê num geral. ♥

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  2. Eu gosto muito de ouvir/ler escritores falando de si. Eu sei que parece, pelo tanto que eu falo de mim e das minhas coisas, que eu gosto mais de falar de mim, mas é contrário: eu gosto mais de saber sobre os outros, ver como eles pensam durante todo o processo, as inspirações, as satisfações, as decepções, e como os escritores enxergam o próprio amadurecimento, ou inventam suas próprias táticas pra lidar com certas situações. Fora que, por exemplo, quando você vem falar comigo, sempre gera um assunto interessante, porque nós dois saímos aprendendo.

    Enfim, fiquei feliz mesmo de você ter atendido ao meu pedido e escrito este post. Você contou as coisas que eu queria saber sobre Prazer e Remissão, além da própria construção narrativa.

    Eu confesso que ainda não tinha muita noção do seu estilo literário quando fui ler Prazer e Remissão, porque eu só tinha lido seus contos e até uma parte de Se Eu Tivesse Um Coração que eu não lembro até onde foi. XD Então eu não fazia ideia de que "um livro pornô" era novidade pra você. Mesmo assim, dá pra notar que Prazer e Remissão tem uma pegada bem diferente de pornôs reais, e eu vou te dizer alguns porquês:

    1) Não tem pornô o suficiente :P Eu não leio muitos pornôs no Wattpad, mas já li alguns, também já li publicações em livros e de sites considerados mais focados em estórias eróticas, e digo que o seu livro tem cenas de sexo, mas o foco da trama não é o sexo, mesmo que o sexo apareça como fetiche, inicialmente, pra construção de personagem do Eugênio. Num pornôzão mesmo, você só precisaria dizer que eles são pai e filho e colocar cenas de sexo em cada capitulo.
    2) Dito isso ↑, como eu falei, você usa um fetiche, digamos, do protagonista, e que também é um fetiche comum da esfera erótica, pra desenvolver um personagem complexo em cima — e um desenvolvimento de personagem sempre vai exigir reflexões, provações, angústias, porque não é a felicidade que muda a gente, afinal. Digo isso porque, pense bem: Se o Gegê tivesse conseguido transar com o pai logo no começo, você teria uma aceitação maior na sua estória pelos punheteiros de plantão, mas você não teria tido _nada_ pra desenvolver o protagonista. Certo? E você gosta tanto do protagonista também porque você acompanhou a jornada do herói dele. :P Você viu tudo o que ele passou, sentiu, superou, venceu. É seu filho, você se orgulha dele. E a construção de personagem, quanto mais trabalhada ela é, mais profunda e reflexiva ela vai tornar a estória em si. A partir do momento em que você criou o desenvolvimento do Eugênio, com isso aprofundou a trama, você transformou o Eugênio num personagem REAL. Real demais pra quem só quer bater punheta. Porque muitos fetiches entre pais e filhos se dá ou só de maneira onírica, ou algo bem reprimido. A maioria das pessoas não quer que isso seja trazido à realidade — ao _peso_ da realidade, essa coisa concreta e marcante. Se você não tivesse dado tanto significado, no decorrer de vários outros capítulos, à vontade do Eugênio de se relacionar não só eroticamente, mas amorosamente com o pai, aquela primeira transa deles não teria tido TANTO significado.

    ↑ Isso significa que você "fracassou"? Nope. ►

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    1. Você pode ter a sensação de fracasso porque as pessoas não conseguiram digerir isso, e você esperava ser convincente sendo realista. Quanto mais realista você é na ficção, menos as pessoas tendem a gostar. O convencimento é mais efetivo na fantasia. Game of Thrones é mais crível do que qualquer crime documentado que a gente tenha. É crivel porque é distante das pessoas. Quando uma trama real demais chega perto do leitor, essa trama com seus altos e baixos, o leitor não preferente e acostumado a esse tipo de leitura vai se acuar. Ele não quer que você diga pra ele que amar e transar com um pai biológico pode acontecer e, hey, ter um quê de normal mesmo numa sociedade tão crítica.

      Você não fracassou porque você construiu bem a trama e os personagens, ao ponto de se apegar tanto a eles. Você não fracassou justamente por ter incomodado os outros ao trazer esse assunto à tona, e de um modo tão complexo que também pode ser interpretado como metáfora pelos pseudo-psicólogos de plantão. Mais ainda, o fato de você ter se apegado aos personagens mostra que, mesmo não agradando os leitores com algumas coisas, você conseguiu satisfazer algo em si mesmo, mostrar algo pra si mesmo, superar algo em si mesmo, amadurecer algo em si mesmo. A questão é que você se deixou cair na armadilha típica em que nós, escritores, vivemos caindo: Quando a gente já tem outros livros aprovados, e quando a gente sente confiança em algo, a gente espera que os leitores continuem com a gente, seguindo a estória passo a passo como a gente planejou. Quando os leitores se desviam do caminho que nós traçamos em uma estória, a gente se agonia mesmo.

      Eu sempre comento em todo canto que eu tive que fazer uma escolha: ser um escritor lido, e escrever coisas que não me interessam muito, mas atendem aos outros; ou ser um escritor que escreve com as tripas da própria humanidade que as pessoas arrancam umas das outras XD, e não ser lido. Bom, não sou lido, mas me sinto satisfeito com meus próprios projetos. E mencionei isso porque, no livro que eu to escrevendo, eu criei um protagonista negro, na época da segregação dos EUA, que eu quero que confunda absolutamente os leitores, ou mesmo seja odioso para os leitores. O nome do livro é "Our Silent Crimes". A proposta é mostrar os podres de todos os tipos de pessoas, mesmo as que parecem inocentes. Eu amo meu protagonista, e, por causa dele, esse já é o livro com mais cenas de sexo que eu já escrevi, e com detalhes; mas, por mais que eu o ame, ele faz merdas, e eu quero que os leitores demorem ao máximo pra tomarem o partido dele, que sintam RAIVA dele, que se perguntem quem ele é, por que tá fazendo isso, como ele vai resolver. Eu não quero que ele seja digerido nem se encontrarem algo de bom nele. Nesse ponto, eu e meu personagens somos o oposto do Eugênio, mas porque eu já sei que, mesmo se meu personagem fosse bom, os leitores poderiam nunca encontrar o caminho que eu to traçando pra minha estória. Aliás, mesmo que meu personagem não mereça, é bem possível que ainda romantizem ele. A questão é estarmos preparados pra tudo, e perceber que, a partir do momento em que entregamos aos leitores um livro dito completo, a estória e os personagens pertencem aos leitores, viram massinha nas mãos deles.

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    2. Enfim, uma coisa que se tornou mais visivel pra mim no seu post é que, apesar do seu apego pelos personagens, talvez, realmente, não haja o porquê de um a continuação. Você me passa a sensação de não ter pra onde ir. Você fechou a Prazer e Remissão direitinho, apesar de você ter feito essa coisa dubia de erótico com drama. Além disso, a estória onde terminou mantém no plano surreal, no pedestal, a grande glória do Eugênio que foi dar uns pegas no pai. Se você faz uma continuação, você vai precisar tirar esse objeto onírico, o desejo do Eugênio, do pedestal, e vai colocar esse objeto dentro de uma realidade onde ele vai se perder, porque uma nova estória requer uma nova trama, já que você deu o ponto final da última. Cada frase conta uma coisa: "Eu passei a vida tentando conquistar meu pai." e "Eu finalmente conquistei meu pai." contam duas coisas completamente diferentes, mesmo se vêm no mesmo parágrafo.

      Não digo isso por não querer continuação, mas por eu compreender a sua dificuldade mesmo. Talvez o seu próprio instinto tenha medo de tirar toda a beleza onírica do desejo do Eugênio transferindo isso pro ponto de vista de alguém que pensa completamente diferente, e que ainda corre o risco de não querer levar isso adiante.

      EN-FIM. Eu espero ter dito alguma coisa útil. Se eu não disse, ou se falei algo errado, perdão. E perdão pelo textão também. \hug ♥ (Tive que mandar os comentários separados porque não tava funfando nada direito.)

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