domingo, 22 de março de 2015

Primeiro as Coisas Primeiras

(poema de W. H. Auden, First Things First; tradução minha)

Desperto, deitei-me nos braços do meu próprio calor e escutei
Uma tempestade gozando de sua tempestuosidade no escuro invernal
Até que meu ouvido, como bem pode quando meio-adormecido ou meio-sóbrio,
Pôs-se a trabalhar para desembaralhar aquele tropel interjetivo,
Traduzindo suas vogais aéreas e consoantes aquosas
Em um discurso-de-amor indicativo de um Nome Próprio.

Dificilmente a língua que eu teria escolhido, ainda assim,
Como a aspereza e a falta de jeito permitiriam, ela falou em teu louvor,
Reconhecendo-te como uma cria-divina da Lua e do Vento Leste
Com poder para domar tanto monstros reais quanto imaginários,
Igualando tua graça de ser à de um condado em terras elevadas,
Aqui verde de propósito, lá puro azul por sorte

Barulhenta porém era, solitária como certamente me encontrou,
Ela reconstruiu um dia de silêncio peculiar
Quando um espirro poderia ser ouvido a uma milha, e me fez caminhar
Por um promontório de lava ao teu lado, a ocasião tão perpétua
Quanto o fitar de qualquer rosa, tua presença exatamente
Tão única, tão valiosa, tão aqui agora

Isso, aliás, a uma hora quando frequentemente
Um diabo matreiro me aborrece em belíssimo Inglês,
Prevendo um mundo onde todo local sagrado
É um terreno coberto de areia que todo texano culto faz,
Mal informados e completamente extorquidos por seus guias,
Um mundo onde corações corteses estão extintos como Bispos Hegelianos.

Grato, dormi até uma manhã que não diria
Em quanto acreditou do que eu disse que a tempestade dissera
Mas que calmamente chamou minha atenção para o que havia sido feito
— Muitos metros cúbicos a mais na minha cisterna
Contra um verão leonino —, colocando em primeiro as coisas primeiras:
Milhares de pessoas viveram sem amor, nem uma sem água.

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