quarta-feira, 26 de junho de 2013

Rebobinar

Ver, viver e ter tudo de novo e de trás pra frente.

O porta-retratos caído, partido, estilhaçado sobre o chão. Os rostos divididos por uma fissura no papel. Até que a celulose se refaz e a fissura se desfaz. Aos poucos, os fragmentos de vidro fino se aproximam e se encontram, também apagando qualquer vestígio de imperfeição que pudesse ficar para trás. A madeira encontra suas arestas e os vértices se unem, enquadrando a figura sob o vidro translúcido. Num movimento antigravitacional, o corpo desliza pelo vento e baila em direção à lisa superfície da penteadeira.

Então observo com olhos cansados a imagem de nós dois, e assim o faço pelo simples fazer, ou talvez para me lembrar de que gosto de me lembrar de você, embora essa lembrança me faça querer me afastar. Controverso, incerto, inseguro, inexplicável e encerrado.

Acabou. O que restam são estilhaços, e tudo o que se pode fazer é rebobinar e admirar por um instante, que deve ser breve, e depois varrer os cacos para debaixo do tapete, guardar os pedaços do porta-retratos e manter a fotografia guardada onde ninguém saiba, pois ela é a parte mais importante dessa cena (que se repete e se repete), até que um dia ela se desgaste e vá para aquela caixinha velha, onde ficam todas as outras fotos de menor valor.

Mas por enquanto deixe-a na segunda gaveta, por favor.

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